Estamos iniciando um novo tempo litúrgico, a quaresma, marcada por ritos e símbolos. Quaresma remete a quarenta que na Bíblia é um número simbólico, pois nos recorda os quarenta anos que o Povo de Deus andou pelo deserto rumo a Terra Prometida, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias que Jesus passou no deserto e foi tentado antes de iniciar o seu ministério público. Podemos dizer que esses quarenta dias são um tempo de prova que antecedem a uma grande vitória. Nesse tempo a Igreja é convocada a voltar-se inteiramente para o Senhor na busca do perdão. Em síntese podemos dizer que a quaresma é uma grande preparação para a maior festa cristã, a Páscoa de Jesus.
Na Sacrosanctum Concilium 109 (documento do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia) destaca-se que um dos principais objetivos do período Quaresmal é: “(…) preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal, ouvindo com mais frequência a palavra de Deus e entregando-se à oração com mais insistência”.
A caminhada que nos propomos fazer é de encontro com o Senhor. Diante disso, a Igreja orienta no Catecismo da Igreja Católica (nº.1438) que o tempo quaresmal é um período forte da prática penitencial. Portanto, a quaresma deve ser acompanhada de exercícios espirituais, liturgias penitenciais, prática de jejum e da partilha fraterna.
A celebração da quarta-feira de Cinzas dá início a esse tempo. Na oração de bênção das cinzas se reza: “(…) e assim, reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado”. Nessa oração encontramos o sentido litúrgico do gesto de imposição das cinzas, levar-nos um espírito de arrependimento e de busca do perdão de Deus, pois a nossa vida é breve e passageira, mas ao sermos incorporados à Cristo pela ação do Batismo somos chamados a uma vida de santidade, resplandecendo a imagem de Nosso Senhor Ressuscitado.
É bom retomarmos alguns preceitos de nossa fé que diante de uma sociedade secularizada, tem caído em desuso, um deles é a abstinência de carne. O Código de Direito Canônico (c.1251) prescreve que na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão os fiéis devem fazer abstinência de carne ou de outro alimento.
A Igreja no Brasil há muitos anos tem apresentado no tempo quaresmal a Campanha da Fraternidade, que neste ano tema como tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”; e como lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). Mais uma vez a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos convoca a responsabilidade do cuidado com a nossa casa comum, obra das mãos de Deus, mas que se vê ameaçada pela ganância e exploração humana. Uma profunda conversão que precisamos vivenciar nesse período quaresmal é de nos conscientizarmos que somos parte integrante do cosmos e chamados e cultivar e a guardar a obra da criação.
Adriano Mendes de Pinho
Referências:
– CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9.ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Paulus, Loyola, Ave- Maria. 2011.
– CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. Código de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1983.
– DOCUMENTOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium. Constituição sobre a sagrada liturgia. In: DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II. São Paulo: Paulus, 1997.