No dia 24 de novembro de 2017, foi celebrada a Missa na casa de formação do Seminário São José da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano, presidida por Padre George – atual responsável pela comunidade dos refugiados em Belo Horizonte – a fim de atender a nosso pedido para nos inteirar desta desafiante e evangélica missão de modo a partilhar a vivência de como é lhe dar tão proximamente com aquilo que o Papa Francisco considera ser a segunda pior tragédia da humanidade, ficando atrás apenas da Segundo Guerra Mundial.
Após a Missa, tivemos uma conversa bastante enriquecedora, de tal modo que tivemos acesso, pelos relatos do Padre George, à verdadeira realidade do cotidiano de um refugiado no Brasil, desde sua chegada à sua permanência. E um dos aspectos mais relevantes, foi ter a convicção de que o povo brasileiro é o tesouro da nação. Embora existam embargos burocráticos, falta de órgãos públicos o suficiente para atender à demanda da chegada dos vários refugiados, Padre George enfatizou que o povo brasileiro não só acolhe, como também representa a gratuidade e a providência de Deus referente às necessidades dos nossos irmãos estrangeiros que vieram estar conosco. Em seus relatos, afirmou que os refugiados, em sua maioria, são graduados, e que inclusive já tem empresas que empregam um número considerável de brasileiros.
Foram momentos de grande valia já no fim de mês missionário, onde pudemos acompanhar através de relatos vivenciais do Padre George, novos caminhos de evangelização bem como nos pede insistentemente o Sumo Pontífice: uma Igreja em saída.
Se render a situações conflitantes e se permitir estar “em saída” nem sempre se torna algo simples, porém, é justamente pela capacidade de entender que o ser humano é um ser complexo, mais do que racional, sociável, político se faz necessário assumir que o homem é um ser de fé, metafísico, que anseia por Deus, assim como a terra precisa da chuva.
Em um de seus pronunciamentos o Papa Francisco chega a afirmar que o “Alzheimer espiritual provoca medo e insegurança”. Talvez seja esse o motivo de tanta omissão por parte dos governantes e até mesmo por nós, batizados, chamados a construir o Reino de Deus. Mas, somos convocados a enfrentar essa triste realidade que marca negativamente a história e que será contada por nossos sucessores na fé.
Talvez não seja o caso de entender a situação da qual fazemos parte nesse momento da história, e sim apenas se lançar ao amor de Deus, nos permitindo a abertura de espírito, de modo a permanecer na mesma perspectiva do livro do Levítico: “O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque foste estrangeiro na terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus”. (Lv 19, 34).
Desse modo, somos impelidos a corresponder com as demandas de nosso tempo, de tal maneira que “a nossa resposta comum poderia articular-se à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, promover e integrar”. (Francisco, Discurso aos participantes no Fórum Internacional «Migrações e Paz, 21 de fevereiro de 2017).
Paulo Leal
Referência
FRANCISCO, Papa. A mensagem do Papa para Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2018. Disponível em:<http://br.radiovaticana.va/news/2017/08/21/mensagem_do_papa_para_dia_mundial_do_migrante_e_do_refugiado/1331843>.Acesso em: 19. out. 2017.