Uma parceria entre a PUC – Minas, o ISTA e a FAJE, por meio de seus respectivos Institutos de Filosofia e Teologia, possibilitou a realização do VII Colóquio de Teologia e Pastoral entre os dias 13,14 e 15 de maio. A questão central deste colóquio foi: Como pensar a pastoral? Diante dos desafios que se apresentam à ação da Igreja o colóquio revisitou o “princípio da pastoralidade” inaugurado pelo Concílio Ecumênico do Vaticano II que fecundou profundamente a Igreja e a teologia nos últimos anos que a ele se seguiram, tendo sido as Conferências de Medellin e Puebla fundamentais neste processo.
Os conferencistas, Pe. Agenor Brighenti, ao falar da “Evangelização no presente e no futuro: 40 anos depois de Puebla”, o Pe. Geraldo Luiz De Mori ao abordar o tema “Propor a fé na Pós-Modernidade” e, Dom Joaquim Mol ao falar dos “Desafios dos cismas na Pastoral”, foram unânimes em mostrar que “hoje a Igreja vive uma crise da atualização do princípio da pastoralidade. Por um lado, vê-se diante das mudanças culturais da sociedade pós-moderna e, por outro, busca retomar o caminho aberto pelo Concílio, para responder às demandas que emergem dos distintos grupos e interesses que irromperam no cenário religioso nas últimas décadas”.
Destacamos aqui alguns aspectos da conferência proferida por Dom Joaquim Mol sobre os Cismas na Pastoral, devido a relevância dos aspectos e situações por ele pontuadas de aplicação imediata para uma reflexão acerca de nossa comunhão eclesial entre o vértice e as bases da Igreja. Partindo do conceito canônico de cisma como sendo “ a recusa de sujeição ao sumo pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos”, mormente os bispos, Dom Joaquim disse que, no momento, não se pode falar de uma igreja cismática como nos moldes antigos; por outro lado, pode se falar de cismas silenciosos, no cenário pastoral da Igreja, comprometendo por completo o sonho do Concílio Vaticano II: de ser uma igreja atualizada, sinodal, povo de Deus em comunhão e missão. Nesta esteira é que o Papa Francisco é um Dom de Deus para este momento histórico e eclesial, no dizer do conferencista, quando não tenta reinventar a Igreja, como os cismáticos silenciosos ou mais exaltados o acusam, mas sim, dar ao Concílio a sua oportunidade de cumprir o seu papel para a Igreja não ser uma instituição anacrônica.
Ao falar de cismas silenciosos no coração da Igreja, dom Joaquim foi enfático ao nomear alguns agrupamentos, situações ou interesses que maculam a sinodalidade e comunhão:
1) Em relação ao papa destaca-se o desprezo pela figura do Papa Francisco pelas suas escolhas em um estilo de vida simples, sobretudo na indumentária tradicional, críticas veladas ou explícitas aos seus gestos concretos de humildade no trato com os pobres, a desconfiança e o menosprezo por seus escritos acusando-o de não ter fundamentação teológica ou mesmo de heresias, ataques à sua abertura ao ecumenismo e ao diálogo interreligioso com o argumento de levar a Igreja à perda de sua autonomia, hegemonia ou centralidade, a indiferença aos seus escritos ou a leitura com lentes de má fé de seus documentos, especialmente a Amoris Laetitia, são alguns exemplos.
2) Em relação à CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ele destacou os ataques impiedosos de grupos católicos, sobretudo nas redes sociais, que a acusam de comunista quando defende os pobres, pronuncia sobre as questões e crimes ambientais, orienta sobre a opressão governamental em cima do povo, especialmente os mais pobres. Essas e outras acusações são feitas em nome de uma sã doutrina ou de um amor à igreja. Mas estes grupos ou pessoas se omitem, por ignorância ou má fé, princípios básicos do Evangelho e a responsabilidade da Igreja no seu múnus de ensinar quando “Compete à Igreja anunciar sempre e por toda a parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas”. (Cân.747 - § 2.).
3) Por fim, ele colocou o dedo na ferida de todos nós, sem ser ácido, mas sem faltar ao profetismo, quando diz que no cotidiano da ação pastoral e da pertença à Igreja, muitas vezes fortalecemos o cisma silencioso quando seminaristas, leigos e clérigos resistem, ignoram ou fazem de conta que aderiram aos projetos pastorais diocesanos, quando estes mesmos grupos, embora desconheçam o Concílio Vaticano II e, mais ainda, os tempos anteriores ao Concílio, mesmo assim tem saudade e querem viver num passado que ignoram, sobretudo nos costumes e em modalidades de uma espiritualidade anacrônica.
Por fim, Dom Mol, ao falar de sua nova missão à frente da Comissão Pastoral para a Comunicação, na CNBB, lembrou que não há outro caminho a não ser o diálogo para um lento processo de conversão para a superação destas feridas no corpo da Igreja.
O reitor e os formandos da comunidade São José participaram deste VII Colóquio de Teologia e Pastoral e desejam fazer com que estas reflexões produzam frutos pessoais, comunitários e eclesiais de conversão pastoral para o bem da diocese e de toda a Igreja.
Pe. Francisco Guerra - Reitor