No dia vinte e nove de fevereiro e primeiro de março de dois mil e vinte foi realizado, na Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano, na Associação Regional de Promoção e Ação Social (ARPAS), em João Monlevade, o retiro quaresmal destinado à comunidade surda. Estiveram presentes surdos e agentes de pastorais da diocese de Itabira e também da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Dom Marco Aurélio Gubiotti também esteve presente no encontro e proferiu mensagens de entusiasmo aos surdos e reafirmou o empenho da Igreja na construção de uma sociedade mais inclusiva que contemple a realidade dos surdos em seu ato de fé.
Padre Wagner Douglas, assessor arquidiocesano da Pastoral do Surdo em Belo Horizonte, e os agentes de pastoral do Curato Nossa Senhora do Silêncio, auxiliaram no encontro que foi realizado pela Pastoral do Surdo da Diocese de Itabira-Cel.Fabriciano. O retiro teve um grande número de participantes surdos, em maior número, e alguns intérpretes dos três regionais da Diocese.
Os palestrantes foram:
Pela primeira vez, na Diocese de Itabira, os surdos tiveram a oportunidade de presenciar e rezar uma Missa em Libras. O objetivo do retiro foi de promover a cultura surda e proporcioná-lhes uma oportunidade de vivenciar mais intensamente o período da Quaresma. As palestras todas foram voltadas para espiritualidade do surdo diante de sua imersão pastoral na comunidade de fé.
Dito isto, é possível fazermos uma breve reflexão da realidade da comunidade dos surdos. Já imaginou o seu cotidiano sem a escuta dos barulhos mais corriqueiros, como o barulho de um rádio, sem a escuta do celular, sem a escuta de uma televisão, sem a escuta de um chamamento? Então, assim é o dia a dia dos surdos. Engana-se quem pensa que eles não têm capacidade comunicativa. A comunicação de um surdo se dá por meio da Línguas de sinais. Existem outros métodos, pois a cultura surda possui uma diversidade em seu modo de proceder.
Quando se trata de comunidade surda, cultura surda, temos que ter em mente o grande desafio que existe de assimilação, de comunicação, de aceitação e de promoção do protagonismo surdo na sociedade, seja por parte dos ouvintes em relação aos surdos, seja por parte dos surdos em relação a eles mesmos.
Hoje é comum ver surdos nas lojas, nos hospitais, nas Igrejas, nas academias, mas nem sempre foi assim. Quando recorremos à história, percebemos o quanto os surdos foram prejudicados.
Paula Guedes Bigogno, em seu artigo: “Cultura, Comunidade e Identidade Surda: O que querem os surdos?”, afirma que
Na China Antiga, eles eram jogados ao mar; em Esparta eram jogados do alto de rochedos, em Atenas, eram abandonados; entre os gauleses eram sacrificados em ritual. Na Grécia e em Roma, eram tidos como retardados, incapazes de gerenciar seus atos e indignos da condição humana. Em 483-482 a.C., o Código Justiniano passou a distinguir graus de deficiência auditiva, ressaltando que o nascido surdo estaria privado de desenvolvimento moral e intelectual. (BIGOGNO apud ARRIENS, p. 2)
Diante de tamanho déficit, historicamente, com os surdos, hoje, é necessário dar passos significativos para a promoção da cultura surda, principalmente no âmbito da fé. Frente a essa realidade, a Diocese de Itabira não tem medido esforços para promover a Pastoral do Surdo. O retiro foi oferecido aos surdos gratuitamente a fim de que todos tivessem a oportunidade de participar. As sementes estão sendo lançadas. Foram momentos marcantes que impulsionaram os surdos a assumirem sua própria história e o seu lugar na Igreja, na pastoral do Surdo.
Peçamos à Virgem Maria que interceda por todos nós a fim de seguirmos fielmente a Jesus Cristo e a Igreja.
Seminarista Paulo Leal – 2º ano de Teologia
REFERÊNCIA
BIGOGNO, Paula Guedes. Cultura, Comunidade e Identidade Surda: O que querem os surdos?. Diponível em: http://www.ufjf.br/graduacaocienciassociais/files/2010/11/Cultura-Comunidade-e-Identidade-Surda-Paula-Guedes-Bigogno.pdf. Acesso em: 25 de fev. 2020.