LITURGIAS DA ESPERANÇA: da comunhão dos santos à ressureição dos mortos

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https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-11/solenidade-de-todos-os-santos.html

“A esperança nos consola: nossa vida brotará. O primeiro a ressurgir, Cristo, a vós nos levará” (Hino, Ofício das Leituras, Ofício dos fiéis defuntos).

 

O calendário litúrgico da Igreja Católica apresenta duas celebrações no início do mês de novembro. No dia 1º, temos a Solenidade de Todos os Santos e, em seguida, no dia 2, a comemoração de todos os Fiéis Defuntos. Estas ações litúrgicas devem proporcionar aos fiéis uma experiência mais profunda e fortificadora da presença de Deus. Podemos dizer que a liturgia desses dois dias nos alimenta com o sentimento da esperança. Se, no primeiro dia, somos motivados a contemplar a vida dos santos que viveram a santidade e seguiram os ensinamentos do Senhor, o segundo dia, nos fortalece na crença de uma vida eterna junto com o Ressuscitado, pois ele é o Senhor da vida.

A solenidade de Todos os Santos nos convida a olharmos para aqueles que souberam acolher e viver o chamado de Deus. O exemplo de amor e fidelidade dos nossos santos e mártires devem nos impulsionar a vivermos de forma coerente como cristãos batizados, a anunciarmos o querigma (anúncio de Jesus) e sermos profetas e testemunhas do amor. “O apelo à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade se dirige a todos os fiéis cristãos” (CIC 2028)[1].  Essa liturgia deve nos motivar à escuta e à obediência da Sagrada Escritura, pois ela nos sustenta no quotidiano da nossa vida e ajudam-nos a progredir na prática das virtudes. Por meio de tão nobres intercessores sabemos que é possível trilhar um caminho novo rumo ao Reino de Deus. Não uma vida de santidade abstrata e romantizada, mas vivida no concreto do dia a dia, das ações e sentimentos comuns ao ser humano. “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito’ (Mt 5,48)” (CIC 2013)[2]. Ao olharmos para os santos devemos querer imitar o seu exemplo e aprender a viver como pessoas e comunidades eclesiais, em uma eterna comunhão, que se envolva no projeto de Deus com o qual os ornou de glórias: “dos santos todos foste caminho, vida, esperança, Mestre e Senhor: ouvi agora nossos louvores, ó Redentor” (Hino Ofício das Leituras, 1º de novembro).

A liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos é uma tradição antiga da Igreja. Falar de morte, muitas vezes, nos causa desconforto e medo, pois não estamos preparados para nos desvincularmos deste mundo. Essa liturgia deve nos fortalecer na fé e na certeza de que participaremos da glória com o Ressuscitado. O prefácio da missa do dia nos apresenta um grande consolo: “Ó Pai, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. Além de rezar pelos nossos entes queridos, que não estão mais em nosso meio, de relembrarmos deles com tanto carinho e saudade, essa liturgia deve nos ensinar a olharmos e valorizarmos mais a nossa vida. Cuidar da vida é atitude primordial para cada um de nós, pois ela é um dom que Deus nos concede. A morte não é capaz de destruir a vida. Ela deve ser vista como aprendizagem e certeza da ressurreição. Como o apóstolo Paulo, o cristão deve ter a ousadia de dizer: “Pra mim, viver é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). E que, no amadurecimento da nossa fé, possamos, em nossa liberdade, entoar o cântico: “Uma só coisa pedi ao Senhor, a ela busco: habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida e ver as delícias do Senhor” (Sl 26,4).

Para que possamos beber na Fonte da Vida, que é o próprio Cristo, Palavra e Verbo encarnado, devemos ficar atentos ao que a liturgia propõe para cada um de nós. A Igreja foi muito sábia em colocar essas duas comemorações em sequência. Se, no dia primeiro, celebramos Todos os Santos, que nos motivam e mostram que o seguimento de Cristo é a glória e a comunhão, no segundo dia, ao comemorarmos os Fiéis Defuntos, temos a esperança de participarmos dessa glória que Deus nos concede e temos a certeza da ressureição dos mortos. “Cristo, Senhor, à vossa herança, por vosso sangue redimida, concedei ver a dor da morte mudar-se em gozo e nova vida” (Hino Hora Média, Ofício dos fiéis defuntos). Que essas duas liturgias, que unem mais intimamente a igreja na sua dimensão visível (igreja militante) e invisível (igreja triunfante e padecente), nos ensinem a importância da vivência da Palavra e do amor, para uma vida de comunhão fundamentada no Mistério de Cristo - o Ressuscitado - na esperança de que um dia, todos reunidos como uma única igreja, o contemplaremos face a face.

 

Seminarista Júlio César Santos

2º ano de Teologia

 

[1] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 1993.

[2] Ibidem.

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