Lições de Tratado da oração e da meditação ao contexto atual

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Após a leitura de Tratado da oração e da meditação, compreendo que a forma de se aproximar do sagrado é simples, tal como é simples o amor de Deus por Seus filhos. Todavia, é sabido que diversos perigos podem turvar essa simples forma de se chegar a Deus. Como exemplo de tais perigos estão a poluição sonora – reinante em praticamente todas as cidades –  a dispersão mental promovida pelos aplicativos de mensagens, que reclamam atenção constantemente, dentre outros fatores que podem impedir uma conversa pessoal com Deus.

Obviamente, os fatores distrativos descritos acima tornaram-se normais na sociedade cotidiana. Inclusive para mim. Ademais, quem nasceu imerso nessa realidade urbana nem considera esses distrativos como estranhos, mas como pertinentes ao tempo. Entretanto, quem já nasceu nessas condições veem como estranho um ambiente em completo silêncio, tão raro um ambiente nessas condições vem se tornando.

Assim, as orações das pessoas (inclusive as minhas, em muitos momentos) dão-se em ambiente de dispersão externa e interna. “rezar” está se tornando meramente uma obrigação. Assim, é preciso que haja um método em que a relação com Deus seja levada a cabo de forma orgânica. Para tanto, essa obra de são Pedro de Alcântara é útil por dois pontos: primeiro, porque é sintética e de fácil linguagem. Segundo, porque mostra os frutos que se pode tirar da oração. Além de fornecer um guia para cada dia da semana, em torno elementos da paixão de Cristo, e de aspectos pertinentes ao tema da oração.

Um elemento interessante nessa obra espiritual é um aconselhamento de São Pedro de Alcântara sobre a intensidade em se rezar. Concretamente: é comum começar a rezar movido por intensos sentimentos. Mas esses duram apenas alguns dias. Nesses dias, a oração torna-se leve por conta da disposição mental e da alta demanda de energia que se coloca nessa atividade. Mas o fato é que, depois desses mesmos dias, essa disposição tende a declinar, de forma que os muitos momentos entregues a oração vão se tornando raros.

Nesse sentido, o autor indica o exemplo dos corredores que, em uma competição, não começam empregando toda energia já no início da corrida. Eles sabem que, nesse ritmo, ficarão cansados rapidamente. Ao contrário, eles começam já dosando suas forças físicas. Por conseguinte, resguardam-nas para serem consumidas ao longo da corrida, e aumentam a possibilidade de alcançarem o primeiro lugar.

Assim sendo, é interessante ao iniciante na vida oracional começá-la primeiramente em momentos delimitados– por mais que se tenha consciência de que se pode ir mais além. É importante se apaixonar gradualmente por Deus. Ao longo dos dias, a oração assim desempenhada não perderá sua seiva vivificante. Logo, a relação com o sagrado jamais deixará de ser apetecível, e nem será abandonada.

Vendo conselhos como esse é compreensível toda a ressonância esse livro teve em personalidades do passado, como a rainha Maria Regina da Suécia, uma protestante. Além do mais, ressonância dessa obra em homens e mulheres do século XXI não é estranha. É preciso retornar às fontes da confiança filial de Jesus ao Pai. E é preciso, para fazê-lo, despojar-se de comportamentos já saturados e assumir o simples e leve jugo que Jesus oferece a seus discípulos. Ele é, e sempre continuará sendo, o caminho, a verdade e a vida para todos os homens e mulheres de boa vontade.

Seminarista Jhonatan Enrique Fernandes Soares, 2° ano de Teologia.

 

REFERÊNCIA: Referência: ALCÂNTARA, Pedro de. Tratado da oração e da meditação. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

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